De mar em mar, as quilhas temerárias
vergaram medos, mitos e procelas!
E os novos mundos, ao sabor das velas,
ao sonho deram dimensões lendárias.
E cada nau rumava mais distante,
num transe de aventura e de miragem!
Em cada vela, o símbolo e a mensagem
do verbo feito carne, agonizante...
Um povo que se erguia e transcendia,
cumprindo, por missão e por vontade,
o voto de rasgar da vista as vendas...
Chegou ao longe mais além que havia!
Nas pedras esculpiu a claridade:
padrões que deram vida a novas lendas!
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 19 de Março de 1996.
Provei, no meu baptismo, o símbolo do sal.
Provei e não gostei, decerto, do amargor.
Provei, bebé ainda, o gosto a Portugal.
Provei, sem crer no Fado, o fel do seu sabor.
O Bem fugaz provei no leite maternal.
O duradouro Mal depois se soube impor.
E nem no tempo vão do breve Carnaval
eu vi, de novo, o Bem, num cântico de amor.
Meu ânimo de bravo ousou o Bojador.
Ao Cabo Não gritei: arreda, o meu fanal
é mais além de ti e até do Adamastor!...
Às Índias arribei! Além do chão natal,
sofri, morri, sonhei, amei com tanto ardor,
que em todo o mundo existo ainda Portugal!
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 9.X.2010.