Quinta-feira, 01 de Janeiro de 2015

Dia_de_primavera_florida.jpg

 

 

Hoje, sob um manto de bruma,

os tempos de coisa nenhuma.

 

Mal enxergo a planta bravia

que resiste

e insiste

e porfia!...

E canto, na planta,

o ardor

que se levanta

e se quer a flor.

 

Ah, venham olores e cores,

luz e primavera!

Ah, venham grinaldas de flores

alindar a fronte

do dia-horizonte

que nos espera.

 

 

José-Augusto de Carvalho

31 de Dezembro de 2014.

Alentejo * Portugal

 



publicado por Do-verbo às 15:38
Domingo, 21 de Dezembro de 2014

partilha_do_pão.jpg

 

Não escrevas estranhas palavras

que eu não sei decifrar.

Fala simples no simples falar

com que falas às terras que lavras.

 

Vem falar-me das dores dos partos

das ovelhas ao frio paridas

e das sôfregas arremetidas

dos seus anhos aos úberes fartos.

 

Vem falar-me da ordenha

e do leite coalhado…

Quem desdenha

umas sopas de almece abafado?

 

Deixa as altas montanhas

e os sermões dos antigos

vai buscá-los nas fundas entranhas

onde ocultos germinam os trigos...

 

Onde oculta germina a promessa

do cativo devir prometido...

onde tudo começa:

a certeza do pão repartido.

 

 

 

José-Augusto de Carvalho

21 de Dezembro de 2014.

Viana * Évora * Portugal

 



publicado por Do-verbo às 22:47
Quarta-feira, 03 de Dezembro de 2014

espera.jpg

 

De fim em fim, eu sempre recomeço…

Que Tempo vário em tempos repartido!

Viagens de aflição… e sempre, no regresso,

o sonho por haver no sonho prometido!...

 

A Vida, em seu viver, me quer e me consome,

querendo sempre mais e mais de mim!

Bendita sejas tu na tua fome

de aromas de poejo e de alecrim!

 

Em ti, eu soube do sabor a sal

e deste céu em chamas, ao sol-posto,

quando o descanso enfim me retempera.

 

Que venham amanhãs de sol e mosto

no vinho novo --- anseio desta espera ---

e eu possa ainda desfrutar-lhe o gosto…

 

 

José-Augusto de Carvalho

30 de Outubro de 2014.

Viana*Évora*Portugal

(Recuperando  textos antigos)

 



publicado por Do-verbo às 22:31
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2014

tormenta.jpg

 

É sempre o mesmo desconforto!

A chuva, o vento, a tempestade…

Fechada a barra,

vazio o porto,

há um vazio na cidade,

um vazio que nos amarra

como os barcos parados,

ao largo fundeados.

 

Galopes de fúria das águas

que salgam as mágoas

dos olhos molhados.

Gaivotas em terra, transidas

de frio nos molhes do porto.

Asas recolhidas,

corpos fustigados

p’los látegos do desconforto.

 

E os barcos parados,

ao largo fundeados,

descendo, subindo

ao sabor das vagas

que investem rugindo…

E a chuva caindo!

E o vento ululante de pragas

agredindo o porto…

E a barra fechada

e a cidade ouvindo,

ouvindo calada,

sofrendo calada

tanto desconforto.

 

E os barcos parados,

ao largo fundeados…

E a barra fechada

negando a largada.

 

*

José-Augusto de Carvalho

16 de Novembro de 2014.

Viana*Évora*Portugal

 

 

 



publicado por Do-verbo às 00:54
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2014

peonza.jpg

 

Que o tempo de hoje se situe e seja o desafio!

Que a folha desprendida ensaie o rodopio!

 

Que as dores das origens

se evadam nas manhãs

e sangrem as vertigens

nos outonais delíquios das romãs!

 

Que após o longo tempo em gestação,

das húmidas entranhas brotem lanças!

Lanças subindo,  raio acima, a tentação

da luz  que vem do céu no olhar duma criança.

 

Que venha, num sinal tão manso de evangelho,

anunciar o pão,

o pão da fome, o pão do menino e do velho

que, ali no largo, jogam ao pião!

 

 

José-Augusto de Carvalho

13 de Novembro de 2014.

Viana*Évora*Portugal

 



publicado por Do-verbo às 11:01
Sexta-feira, 07 de Novembro de 2014

Portugal_Democrático.jpeg

 

Mais um Inverno frio nos deixava…

Mais uma Primavera prometia…

E sempre uma esperança pontilhava

de estrelas este céu que se fechava

ao rútilo esplendor dum claro dia!

 

E sempre esta esperança que morria

em cada frustração que nos matava!

E sempre o desespero arremetia

na força renovada que nos dava

a Fénix que das cinzas renascia!

 

Ai, tanto se morria e renascia!

E sempre esta esperança acalentava.

Que fértil terra de húmus e porfia

a força dava à força que faltava

nas horas em que a vida mais doía?

 

De sangue e desespero se amassava

o pão que noite adentro se comia!

De sol a sol, o corpo tudo dava

a troco duma jorna que minguava

enquanto o desespero mais crescia.

 

Ah, mas, na sombra, a noite murmurava

enleios, numa terna melodia!

E antes de adormecer, já madrugava

nos versos da canção que prometia

livre e fraterna a terra que chegava!

 

Chegava a Liberdade que cantava

lusíada, em feliz polifonia,

o fim do pesadelo que matava

no dia todo em luz que despertava

a vida que chorava de alegria!

 

O pátrio povo em armas devolvia

o berço que das trevas libertava

ao povo que sem armas acudia.

E um povo todo irmão se estremecia

no imenso e terno abraço que se dava.

 

Navegar é preciso, prometia,

agora que o viver se precisava!

Nos braços embalada, a pátria ouvia!

E quanto mais ouvia mais se dava

ao sonho que se ousava e florescia.

 

 

José-Augusto de Carvalho

27 de Outubro de 2014.

Viana*Évora*Portugal



publicado por Do-verbo às 22:27
Sexta-feira, 05 de Julho de 2013

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cada dia que passa o mundo é mais pequeno.

As notícias que chegam desnudam as misérias do embuste,

do embuste que se reclama dos direitos humanos.

 

O embuste que avilta a dignidade dos homens,

O embuste que enlameia a honra das mulheres,

O embuste que assassina a inocência das crianças,

O embuste que disputa os despojos da infâmia que gera.

 

O embuste que, em frenético leilão,

Compra e vende consciências.

 

O embuste que clama pelo fim dos tempos:

É preciso vender!

É urgente vender!

É inadiável vender

As manhãs orvalhadas de vida,

As noites enamoradas dos rouxinóis,

O mar salgado de lágrimas dos desencontros dos amantes,

As auroras da esperança!

 

O embuste que inventou os pobres

e lava a consciência das aparências

nas águas salobras da caridadezinha e das esmolas.

 

O embuste que inventou a lotaria,

a lotaria que faz um rico e desespera milhões de pobres...

 

O embuste da palavra que anestesia os ofendidos

e tortura os sonhos da noite da servidão.

 

O embuste que vocifera do cimo do palanque:

É preciso calar os gritos dos humilhados!

É urgente sufocar o sangue dos revoltados!

É inadiável crucificar todos os perigosos malvados,

esses perigosos malvados que sabem conjugar

o verbo em todos os tempos!

 

 

José-Augusto de Carvalho

1 de Julho de 2013

Viana * Évora * Portugal



publicado por Do-verbo às 00:29
Sexta-feira, 03 de Maio de 2013

 

 

Homenagem a Manuel da Fonseca

 

 

Que caminhos de porfia

vão dar a Montemaior?

Só o Manel os sabia

e conhecia de cor!...

 

Eram caminhos sem nome,

rasgados p'lo sofrimento,

onde se enganava a fome

só em searas de vento!

 

Eram caminhos, por vezes,

de fuga e de perdição,

onde o grito dos malteses

assombrava a servidão!

 

Foram caminhos do Palma,

de quantos Palmas de nós?

Caminhos sem paz nem alma,

sem pão, sem vida, sem voz...

 

 

 

José-Augusto de Carvalho

6 de Fevereiro de 2007.

Viana do Alentejo * Évora * Portugal



publicado por Do-verbo às 10:43
Sábado, 09 de Março de 2013
Bélgica, rio Eau-Noire galgando as margens
(foto Internet)
 

 

Naquele tempo, já o rio tinha
a condição de rio decidida:
nascia e da nascente-berço vinha,
em múrmura canção indefinida.
/
Por entre margens, dócil, caminha.
Um fio de cristal na teia urdida.
Não sabe por que vai nem adivinha
que há sempre um por haver desde a partida.
/
A submissão de muito longe vinha!
Mas uma força em si desconhecida
lhe diz que não é mais a ténue linha
por doce devaneio distendida…
/
E, atónito, descobre a teia urdida:
que para além das margens há mais vida!
 


José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 22:39
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013

Campo de papoilas, foto internet
 
*
«O Alentejo não tem sombra
senão a que vem do céu…»
Se tanta lonjura assombra,
mais assombra a tremulina
que cai, em dourado véu,
sobre o espanto da campina.
*
São os caminhos dos olhos
a rasgar os horizontes,
onde o «alecrim aos molhos»
perfuma a sede das fontes
e a ternura das cantigas
doira a fome nas espigas.
*
É esta raia de Espanha
acendendo a tentação
de buscar em terra estranha
o alor que leveda o pão…
Sonho roendo as entranhas
em dorida punição.
*
É esta angústia que canto
da promessa dum país,
é este parto de espanto,
nos desolados adis,
um manto que tudo cubra,
sangrando, em papoilas rubras.
*
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 22 de Janeiro de 2013.


publicado por Do-verbo às 16:16
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