Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2011
.
 
Quando o desespero
jazia, resignado, nas masmorras,
incapaz de entrever as auroras boreais...
.
 
...o poeta castrado chorava:
O meu cantar é tão doído, é um soluço
que embarga a minha voz!...
.
 
...o aprendiz de sábio afirmava,
do cimo da sua ignorância laureada,
que sempre houve pobres e ricos...
.
 
...os senhores do tempo e do espaço
(por detrás dos mastins,
que noite e dia vigiavam, implacáveis)
embruteciam-se em báquicas orgias...
desafiavam fantasias pantagruélicas...
insultavam a decência e a inteligência
em obscenas irracionalidades...
.
 
...o verbo do feitiço
imolava as presas em aras de sangue,
purificando o rebanho em piras incendiadas...
proclamava a diferença incensada
do poder e da servidão...
garantia a chave miraculosa que haveria
de abrir os portões dum mundo onírico
aos humilhados e ofendidos
mas só após a morte...
.
 
...os predadores e as presas,
sem poetas castrados,
sem sábios aprendizes,
sem senhores nem mastins,
sem feitiço nem feiticeiros,
conjugavam o verbo existir na harmonia
natural e bastante da transitoriedade
do insondável mistério do ser e do não-ser...
.
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 18 de Maio de 1997.


publicado por Do-verbo às 16:33
Registo de mim através de textos em verso e prosa.
mais sobre mim
blogs SAPO
Janeiro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
25
26
27
28
29

30
31


pesquisar neste blog