Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014
 

JoãoCruzSousa_poetabrasileiro_séculoXIX.jpgCruz e Sousa (João da Cruz e Sousa) nasceu em 21 de novembro de 1861 em Desterro, hoje Florinaopolis, Santa Catarina. Seu pai e sua mãe, negros puros, eram escravos alforriados pelo marechal Guilherme Xavier de Sousa. Ao que tudo indica o marechal gostava muito dessa família pois o menino João da Cruz recebeu, além de educação refinada, adquirida no Liceu Provincial de Santa Catarina, o sobrenome Sousa.

Acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.

Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central.

Apesar de toda essa proteção, Cruz e Sousa sofreu muito com o preconceito racial. Depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos de preconceito racial.

Algum tempo depois é nomeado promotor público, porém, é impedido de assumir o cargo, novamente por causa do preconceito. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e continuou sendo vítima do preconceito.

Em 1893 casa-se com Gravita Rosa Gonçalves, que também era negra e que mais tarde enlouqueceu. O casal teve quatro filhos e todos faleceram prematuramente, o que teve vida mais longa morreu quando tinha apenas 17 anos.

Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.

Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis.

Cruz e Sousa é, sem sombra de dúvidas, o mais importante poeta Simbolista brasileiro, chegando a ser considerado também um dos maiores representantes dessa escola no mundo. Muitos críticos chegam a afirmar que se não fosse a sua presença, a estética Simbolista não teria existido no Brasil. Sua obra apresenta diversidade e riqueza.

De um lado, encontram-se aspectos noturnos, herdados do Romantismo como por exemplo o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, angústia morte etc. Já de outro, percebe-se uma certa preocupação formal, como o gosto pelo soneto, o uso de vocábulos refinados, a força das imagens etc. Em relação a sua obra, pode-se dizer ainda que ela tem um caráter evolutivo, pois trata de temas até certo ponto pessoais como por exemplo o sofrimento do negro e evolui para a angústia do ser humano.

É considerado o mestre do simbolismo brasileiro.

 *

Livros publicados:

Poesia:

Broquéis, 1893

Faróis, 1900

Últimos Sonetos, 1905

O livro Derradeiro, 1961

*

Poemas em Prosa:

Tropos e Fanfarras, 1885 - em conjunto com Virgílio Várzea

Missal, 1893

Evocações, 1898

Outras Evocações, 1961

Dispersos, 1961

*

CRONOLOGIA

1861

Nascimento do poeta em 24 de novembro, Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Filho do escravo mestre-pedreiro Guilherme e da escrava liberta, Carolina Eva da Conceição, negros puros.

1869

Ingresso na escola pública, depois de receber as primeiras letras de dona Clarinda Fagundes de Souza, mulher do marechal Ghilherme Xavier de Sousa, em cuja casa o poeta foi criado.

1871

Matrícula no Ateneu Providencial Catarinense, onde lecionava o alemão Fritz Müller. Cruz e Sousa estudou com distinção grego, latim, inglês, francês, português, matemática e ciências naturais.

1881

Fundação, com Virgílio Várzea e Santos Lostada, do jornal literário "Colombo". Viagem ao Rio Grande do Sul, de navio, acompanhado a Companhia Dramática Julieta dos Santos, como ponto teatral.

1884

Nova viagem ao Norte do país. Aclamações abolicionista ao poeta na Bahia. Em 1885 publica o livro de poemas em prosa "Tropos e Fantasias" em parceria com Virgílio Várzea. Dirige o jornal "O Moleque".

1888

No Rio, entra em contato com Luís Delfino, B. Lopes e Nestor Vítor. Este tornar-se mais tarde grande amigo, admirador e editor do poeta. Leituras de Edgar Allan Poe e de alguns simbolistas europeus.

1888

Abolição da escravatura. Durante estada no Rio, apresenta a José do Patrocínio um livro de versos chamado "Cambiantes", que não chegou a ser publicado. O livro continha poemas abolicionistas.

1890

Muda-se definitivamente para a capital federal, onde trabalha como noticiarista da revista "A Cidade do Rio de Janeiro". Leitura de Mallarmé. Colabora na "Revista Ilustrada" e no jornal "Novidades".

1891

No dia 18 de setembro, à porta de um cemitério de subúrbio, Cruz e Sousa conhece Gavita Rosa Gonçalves, seu grande amor. Gavita é uma costureira negra que se criara em casa de um médico de posses.

1893

Publicação de "Missal", prosa, em fevereiro, e "Broquéis", poemas, agosto, pela Magalhães e Companhia. Em dezembro casa-se com Gavita e é nomeado praticante de arquivista na Central do Brasil.

1891

O nascimento do primeiro filho marca o começo das grandes dificuldades financeiras. Finda o mandado de Floriano Peixoto. Em novembro toma posse o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes.

1896

Morte do pai em Santa Catarina, com cerca de 90 anos. Loucura da mulher, no Rio. Em meio a extremas dificuldades, compõe os poemas de "Faróis" e a prosa poética de Evocações.

1896

"Evocações" só é publicado após sua morte. Fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual Machado de Assis seria o primeiro presidente e para a qual o nome de Cruz nem seria cogitado.

1897

A tuberculose ataca Cruz e Sousa no final do ano. Em meio à doença, à pobreza e ao desamparo social, o poeta compõe "Últimos Sonetos", publicados em 1905, em Paris, pelo amigo Nestor Vítor.

1898

A idéia da morte assombra o poeta, contaminando os seus últimos poemas. Em 15 de março, em busca de saúde, parte com Gavita grávida para Sítio, em Minas. Os três filhos ficam no Rio.

1898

Três dias após a chegada, o poeta morre, em 19 de março. Antes de partir para Sítio, o poeta entrega a Nestor Vítor os originais de três livros: "Evocações", "Faróis" e "Últimos Sonetos".

 



publicado por Do-verbo às 16:48
Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014
 
 
Quando a morte te levou,
Não me quis levar contigo.
De ti, apenas, ficou
A saudade, onde me abrigo.

 

Ah, mas eu sei, meu amor,
Que ficaste junto a mim,
Sorrindo em cada flor
Que alinda a nosso jardim.

 

E quando à noite olho os astros
O firmamento bordando
O lucilar dos teus rastros,

 

Eu sei, a todo o momento,
Que tu me estás acenando
Dos confins do firmamento.
 

 

José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 6 de Agosto de 2011


publicado por Do-verbo às 04:54
Domingo, 21 de Dezembro de 2014

partilha_do_pão.jpg

 

Não escrevas estranhas palavras

que eu não sei decifrar.

Fala simples no simples falar

com que falas às terras que lavras.

 

Vem falar-me das dores dos partos

das ovelhas ao frio paridas

e das sôfregas arremetidas

dos seus anhos aos úberes fartos.

 

Vem falar-me da ordenha

e do leite coalhado…

Quem desdenha

umas sopas de almece abafado?

 

Deixa as altas montanhas

e os sermões dos antigos

vai buscá-los nas fundas entranhas

onde ocultos germinam os trigos...

 

Onde oculta germina a promessa

do cativo devir prometido...

onde tudo começa:

a certeza do pão repartido.

 

 

 

José-Augusto de Carvalho

21 de Dezembro de 2014.

Viana * Évora * Portugal

 



publicado por Do-verbo às 22:47
Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2014

 

Escola Secundária Rainha Santa Isabel
Biblioteca Escolar Almeida Garrett - Estremoz, 11/12/2014

estremoz_11_dezembro_2014.jpg

 

 

 Apresentação de Pátria Transtagana, de José-Augusto de Carvalho
 
 
No dia 11 de dezembro recebemos, na Biblioteca Escolar, o poeta José-Augusto de Carvalho para apresentação do seu livro "Pátria Transtagana".

Este evento integrou-se na Feira do Livro e na comemoração da Semana dos Direitos Humanos e contou com a presença do autor do prefácio, Coronel Andrade da Silva, e da autora do posfácio, Professora Maria do Céu Pires, docente na nossa escola.

Pelos laços de admiração e estima que a ligam ao poeta, esteve connosco a Profª Bibliotecária Rosa Barros, do Agrupamento de Escolas de Viana do Alentejo.

A todos agradecemos a presença e o privilégio de nos terem proporcionado momentos de grande significado. A José-Augusto Carvalho deixamos os nossos sinceros parabéns pela sua obra.

Bem hajam!
 
Cláudia Marçal, Professora Bibliotecária
 


publicado por Do-verbo às 19:33
Terça-feira, 16 de Dezembro de 2014

pena_e_tinteiro.jpg

 

Escrever é comunicar.

Quem escreve tem ou supõe ter algo a dizer ao outro.

Quem lê determinará se o que leu foi útil ou uma perda de tempo, do seu tempo de cidadão e leitor.

Escrever é trabalhoso, é mal pago, pode ser um prejuízo material.

Vejamos:

É trabalhoso porque escrever exige horas de estudo e de ponderação, exige consultas e recolha de dados e despesas daí decorrentes;

É mal pago materialmente porque sempre se considerou de somenos o trabalho intelectual; e é mal pago ainda quando não há o reconhecimento por parte das entidades públicas e privadas que da Cultura se reclamam;

Pode ser um prejuízo material quando quem escreve tem de pagar as edições para o seu trabalho chegar ao leitor.

*

Além de quanto antecede, há ainda a situação de quem escreve evitar a edição dita de autor, daí preferir a chancela de uma editora. E esta preferência decorre de ser comum entender-se que a edição de autor determinará menor qualidade do texto editado, pois texto de qualidade terá sempre editora disposta a editar.

Esta verdade feita tem feito o seu caminho na nossa sociedade. Infelizmente.

E aqui levanta-se outra dificuldade para o autor se não for autor consagrado, logo dando garantia comercial ao editor. E a dificuldade é a de ter de pagar a edição e receber uns quantos exemplares do seu livro, os quais, se conseguir comercializá-los, lhe permitirá recuperar o dispêndio. Os restantes exemplares ficarão propriedade da editora, que os comercializará, deles pagando por direitos de autor 10% (ou pouco mais) do preço de capa.

Ponderada esta situação relatada, pergunta-se por que motivo o Estado (do Ministério da Cultura às Juntas de Freguesia) não procura soluções para analisar as obras que lhe sejam submetidas por muitos autores que temos e a esse critério adiram e depois publica as que forem consideradas merecedoras do dispêndio do erário público?

Seria a promoção da palavra escrita e um serviço público à Cultura. E mesmo que seja de atender ao binómio custo-benefício, retorno haverá, certamente.

Evidentemente que para além da palavra escrita, outras actividades na área da Cultura deverão merecer a mesma ponderada atenção.

Aqui fica, para que conste.

Até sempre!

Gabriel de Fochem

Alentejo, 15 de Dezembro de 2014.



publicado por Do-verbo às 20:18
Quarta-feira, 03 de Dezembro de 2014

espera.jpg

 

De fim em fim, eu sempre recomeço…

Que Tempo vário em tempos repartido!

Viagens de aflição… e sempre, no regresso,

o sonho por haver no sonho prometido!...

 

A Vida, em seu viver, me quer e me consome,

querendo sempre mais e mais de mim!

Bendita sejas tu na tua fome

de aromas de poejo e de alecrim!

 

Em ti, eu soube do sabor a sal

e deste céu em chamas, ao sol-posto,

quando o descanso enfim me retempera.

 

Que venham amanhãs de sol e mosto

no vinho novo --- anseio desta espera ---

e eu possa ainda desfrutar-lhe o gosto…

 

 

José-Augusto de Carvalho

30 de Outubro de 2014.

Viana*Évora*Portugal

(Recuperando  textos antigos)

 



publicado por Do-verbo às 22:31
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