Sábado, 09 de Março de 2013
Bélgica, rio Eau-Noire galgando as margens
(foto Internet)
 

 

Naquele tempo, já o rio tinha
a condição de rio decidida:
nascia e da nascente-berço vinha,
em múrmura canção indefinida.
/
Por entre margens, dócil, caminha.
Um fio de cristal na teia urdida.
Não sabe por que vai nem adivinha
que há sempre um por haver desde a partida.
/
A submissão de muito longe vinha!
Mas uma força em si desconhecida
lhe diz que não é mais a ténue linha
por doce devaneio distendida…
/
E, atónito, descobre a teia urdida:
que para além das margens há mais vida!
 


José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 22:39
Segunda-feira, 04 de Março de 2013

...Para o Poeta

Para Décio Pignatari

“Estão todas as verdades/À espera de todas as coisas(...)

Eu acredito que torrões de barro/Podem vir a ser lâmpadas/

E amantes” – Walth Whitman (Leaves of Grass)

...................................................................................

 

Para o Poeta...

O sol se põe numa caixa de fósforos antiga

O arroz-doce feito com losangos de chocolate com menta é manjar dos deuses

Cerveja é rica em amizades boêmicas com muita fibra de suporte existencial

Os horizontes estão cheios de historias em quadrinhos em preto e branco

E as auroras são barbantes cor de rosa-pitanga dos deuses amando rebentos crepusculares...


Para o Poeta...

Amar é céu e inferno; viver é livro como um uivo e morrer é orgânico

Crianças mesmo são envelopes de luz à espera de serem preenchidas por nódoas e tintas, vagidos e frutas

Velhos são sábios como tamarindeiros carregados de rubis fantasmas

Poemas são esparadrapos colados em cicatrizes íntimas de percursos inexatos pelas sofrências

Músicas são solos de silêncio para quem precisa de regra e lição, não de desenhos abstratos em humanismo de resultados...


Para o Poeta...

A terra é um marmitex de Deus para o projeto trágico da vida, evitando ser rotina a viagem de existir na incompletude da pobre alma avelã

Para o Poeta...

Escrever é livre como um rio. As margens, correntezas e atoleiros, dependem das interpretações de quem se lê por suas próprias pegadas, promessas, luzes ou cavernas íntimas...


Para o Poeta...

Nem tudo que reluz é fêmea, nem tudo que reluz é luz

E se a vida não lhe der limões, faz limonada de lágrimas de crocodilo...


Para o Poeta...

O céu é o silencial, muito além daquele turvo infinital de garrafa pet

Quando um anjo maldito grita “Quem enlouquece sempre alcança”

E um eco sinistro retruca: “Deus ajuda quem cedo se insurge...”

Todos os nossos endereços podem ser passageiros

Porque nada é para sempre – nada existe para ser para sempre aqui e agora – nem uma vida só é pouco

Pois na casa do pai noiteadeiro há muitas geladas...


Para o Poeta...

A alma dos lazarentos é feita de lápis de cor

A solidão é a melhor amiga do carrasco notívago

Como o travesseiro de nódulos de isopor é o único refugio para o remorso de um guerreiro noia inseguro

Com sua colcha de retalhos cheinha de estrelas de sangue


Para o Poeta...

O impossível é escada para o porão, ou para o sótão. O difícil é aprendizado de renuncias com rivotril e comital, pois o fígado faz mal pro álcool

E o trabalho é uma pobre terapia que depois vira neura contemporânea de grosso calibre, feito um revolver quente


Para o Poeta...

Ser louco é uma forma de não se esconder na mesmice de tantas errações desvairadas

Mas fazer da inércia um belo sagu de groselha preta artificial made in china

E acreditar que a fé remove religiões...


Por fim, para o Poeta

A vida telúrica é apenas um gomo da cruz adâmica, da maçã podre da espécie, do papiros secretos feito de casca de laranja, e do espírito atribulado que ferra o ente sensível...

E o inferno e o céu em nós, pobres mortais na manada

Somos nós que fazemos – na vida o final feliz é que todos morrem –vivendo e sofrendo, morrendo e aprendendo

E escrevendo bulbos de desespelhos, como se voando com remos

Assim na terra como no céu...

 

-0-

 

Cyber Poeta Silas Correa Leite

Santa Itararé das Artes-SP/Brasil

E-mail: poesilas@terra.com.br

WWW.portas-lapsos.zip.net

 



publicado por Do-verbo às 21:08
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