Quarta-feira, 21 de Novembro de 2012

 

 

 Venho dos longes da Vida,

com este passo seguro,

sempre de cabeça erguida

desafiando o Futuro.

 

Nas horas amarguradas,

que na vida conheci,

ganhei forças renovadas

para sempre estar aqui.

 

Para sempre estar aqui,

ganhei forças renovadas

nas horas amarguradas

que na vida conheci.

 

Enquanto a vida for vida,

hei-de ser a caminhada

que acende na noite escura

o raiar da madrugada.

 

 

José-Augusto de Carvalho

Viana, 23.4.2006.



publicado por Do-verbo às 00:53
Sábado, 17 de Novembro de 2012
16 de Novembro de 2012 - 16h17

Vanderley Caixe, poeta e advogado dos oprimidos

O poeta e advogado Vanderley Caixe (Ribeirão Preto, SP - 6 de outubro de 1944 / Ribeirão Preto, SP, 13 de novembro de 2012) foi um lutador contra a ditadura militar e paladino dos direitos humanos e dos direitos dos trabalhadores, sobretudo rurais.

Vanderley Caixe (1944-2012)


Membro da Juventude Comunista em 1960 (aos 16 anos de idade), fundou em 1966, em Ribeirão Preto (SP), com outros colegas estudantes e militantes, a FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional), para lutar contra a ditadura militar e pelo socialismo. Preso em 1969, andou elos cárceres da ditadura até 1974. Nos cinco anos em que ficou preso, percorreu vários deles: Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau (onde, em 1972, liderou uma greve de fome dos presos políticos), Presídio Hipódromo, de onde foi solto em 1974.
Nesse ano foi solto e terminou o curso de direito. Trabalhou no escritório de advocacia do professor Sobral Pinto e atuou como redator nos jornais Tribuna da Imprensa e Opinião. Em 1976 mudou-se para a Paraíba onde, juntamente com o arcebispo D. José Maria Pires – Arcebispo da Paraíba – criou o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil (ainda na época da ditadura militar). Mais tarde foi secretário geral da Associação Nacional de Advogados de Trabalhadores Rurais, advogado de presos políticos em vários países na América Latina, atuou junto à Corte Interamericana e da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Em João Pessoa (PB), ajudou a fundar o PT e foi candidato a prefeito em 1986.
Voltou a Ribeirão Preto em 1994, onde instalou o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular, mantendo a luta ao lado dos camponeses. Torna-se assessor jurídico do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e participou da Rede Nacional dos Advogados Populares, foi advogado dos presos políticos da América Latina, e atuou junto à Corte Internacional de Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Retomou também a publicação do jornal O Berro, que havia sido destruído pela ditadura militar (hoje transformou-se em uma revista eletrônica).
Foi na prisão que começou a tecer seus versos, publicados em inúmeras antologias e reunidos, em 1999, no livro 19 poemas da prisão e Um canto da terra. Seus temas são épicos, com lembranças da repressão militar, da prisão e das injustiças e dos crimes que presenciou, mas também líricos, tratados com maestria. 
O poeta, lutador e advogado dos oprimidos Vandrley Caixe despediu-se da vida na terça-feira, 13 de novembro de 2012.Deixou nela a marca vívida de seus versos e de sua luta.

Com informações de O Berro
Meu canto de poeta

Poema de Vanderley Caixe

poeta que canta,
me encanta,
me espanta.
Fala de flores,
dores, amores,
cores,
Descobre o sentimento,
revela lamento,
faz de tudo um tempo.
Faz presente,
faz passado,
embota o atrasado.

Mas o canto é mais que isso,
é o verso do universo,
das gentes alegres e sofridas,
dos trapos desta vida,
Das angústias e da cobiça,
dos bandidos adversos,
penetrando em nossos versos,
rasgando a carne humana,
com bombas de Hiroxima,
do trovão de Nagasaki.
Do urânio empobrecido,
sobre seres humanos,
em crianças, velhos, mulheres,
enfim, em gente como a gente,
gente diferente.

É o lucro perverso buscando pelo
universo.
E, eu de um gesto,
faço aqui,
paralisado em lirismo,
faço meus versos.
 
Fonte: Poetas do Brasil (http://poetasdobrasil.blogspot.com.br)

 

 

Profundamente consternado, aqui fica a minha derradeira homenagem a este querido amigo que deixou a Vida e a Humanidade que tanto amou.

Esta página de «tempos do verbo» ficará activa.

Até sempre, Vanderley!



publicado por Do-verbo às 18:05
Sábado, 10 de Novembro de 2012
A NECESSIDADE DA POESIA
José Augusto Carvalho


Quem escreve – ainda que um simples bilhete – tenta afastar-se do falar cotidiano, tenta usar uma linguagem diferente da que está habituado a usar. E escrever poemas é distanciar-se ainda mais da fala do dia a dia. É trabalhar a língua, é subverter a sintaxe, é falar à alma. Por isso, as primeiras manifestações literárias de um povo costumam ser em versos. Quando não havia escrita, as histórias se contavam em poemas, porque as rimas ajudavam no processo de memorização e facilitavam a transmissão da cultura, de geração a geração. A perpetuação da ficção da comunidade ágrafa e da sua cultura – essa terá sido a primeira função da poesia.
Penso nisso agora, ao reler o artigo que (pasmem!), um poeta escreveu no caderno Mais!, de 26-01-97, na Folha de São Paulo. Refiro-me ao artigo “A necessidade atual da inútil poesia”, de Régis Bonvicino, em que ele diz, entre outras coisas:
“A poesia não tem, propriamente, uma função. Ela é inútil (...). Sua inutilidade atravessa regimes políticos diversos, bem como Economias (...). Talvez a poesia tenha uma função no quadro das artes e da cultura: a de ser manifestação inútil (“Teoria do inutensílio”, de Paulo Leminski), sem presença no dia a dia das pessoas, o que lhe confere liberdade e arbitrariedade. (...). A poesia está – hoje – dissociada da evolução das línguas. Não tem, assim, nem mesmo sua antiga função de estimular uma língua (sic!) – papel desempenhado pela televisão, pelo rádio, pelos jornais e um pouco pelo cinema. Há um esvaziamento da poesia neste final de século e de milênio.”
E por aí vai. A citação é longa, mas vale para mostrar que o primeiro grande equívoco do articulista foi confundir a poesia (o conteúdo) com o poema (a forma). A poesia existe em toda parte, em todo lugar, em todos os momentos. Compete ao poeta captá-la e transpô-la para o livro, ou para o filme, ou para a televisão, ou para a música, ou para a dança, ou para o rádio... O poeta é o que vê poesia onde o comum dos mortais não vê nada, além do trivial. Baudelaire viu-a no escatológico; Augusto dos Anjos, num escarro de sangue; Castro Alves, na ânsia de liberdade e de igualdade entre os homens. Gérard de Nerval viu na borboleta um traço de união entre a flor e o passarinho, e a borboleta ficou mais bonita para quem passou a ver nela isso também. Como seria a História do Brasil sem os poemas de Castro Alves, contra a escravidão? Como seria a História do Mundo sem os versos da “Chanson d’automne”, de Paulo Verlaine, que serviram de código para informar a resistência sobre a invasão aliada, na II Guerra Mundial? Ou sem os acordes iniciais da Quinta Sinfonia de Beethoven, que, casualmente, reproduzem a letra V de Vitória, segundo o código Morse (três notas breves e uma longa) e que, por isso, também serviram de aviso aos aliados?
O poeta vê o que nós não vemos, e revela-nos a beleza que existe no mundo que nos cerca, tornando-o melhor e mais habitável. Essa beleza escondida é a poesia revelada. Poesia é a visão bonita que Orestes Barbosa, na canção Chão de estrelas, nos transmite da lua que fura o telhado de zinco do barraco pobre e salpica de estrelas o chão que a morena pisa distraidamente. Poesia é a beleza que Vittorio de Sicca revela na cena final do seu filme Ladrões de bicicleta, ao mostrar o rosto endurecido da criança, subitamente transformada em adulto, a conduzir pela mão o pai desesperado e envergonhado por ter sido flagrado pela multidão quando roubava uma bicicleta para trabalhar. Poesia é o drama, mostrado pela televisão, em novembro de 1985, da menininha colombiana Omaira Sanchez, de apenas 13 anos, vítima da erupção do Nevado del Ruiz, ao morrer de hipotermia, soterrada num buraco cheio de lama e de pedras, acenando com esperança de vida para as câmeras que a focalizavam para o mundo inteiro.
A poesia é necessária, porque nos revela, como as lentes dos óculos de quem tem problemas visuais, um mundo de maravilhas que não saberíamos ver sem ela. Além disso, escrever poemas, vale dizer, tentar revelar a poesia do mundo aos outros, é uma forma também de terapia ocupacional, hoje adotada por psicólogos, por psiquiatras e por todos os que se dedicam aos ortopedismos da mente humana. E, posto que não tivesse função pragmática, a poesia seria necessária, porque não haveria sentido nenhum numa vida que se fechasse ao Belo.
Que me desculpe o pobre poeta articulista Régis Bonvicino, mas a poesia é tão importante e necessária que os homens se matam, a si e aos outros, quando não conseguem vê-la ou descobri-la.
Como eu.


José Augusto Carvalho: Escritor, tradutor, jornalista e professor universitário, José Augusto Carvalho é mineiro de nascimento e capixaba por adoção. Um dos principais lingüistas do Brasil.Bacharel e licenciado em Letras Neolatinas, também é mestre em Lingüística pela Unicamp e doutor em Letras pela USP. Atua principalmente como professor, mas traduz desde a década de 1970 textos do francês, inglês e italiano. Possui uma extensa obra publicada tendo também realizado traduções para as principais editoras do País.


publicado por Do-verbo às 12:12
Terça-feira, 06 de Novembro de 2012

 

 

 


De Babilónia trouxe o teu perfume alado!
Nem tempo nem lugar define a tua essência.
Tu és, na sedução, milagre e florescência,
a cítara de Orfeu do canto revelado.

Um êxtase de cor te lava de inocência!
Na tua sedução não pode haver pecado.
Que culpa pode haver num astro incendiado
que à treva dá a luz sagrada da existência?

Bendita seja a luz que, plena, se derrama
e faz da noite escura um medo de criança!
A luz do teu olhar, feitíço em ígnea chama,
entoa, em seu fulgor, um hino de esperança...

Ai, quem me dera ser, além de coração,
p'ra ti, uma canção, com asas de oração.

 

José-Augusto de Carvalho



publicado por Do-verbo às 00:24
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