Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
 
Caminho, decidido, enquanto o tempo der,
na passada medida

de quem sabe, à partida,

que terá de chegar até onde puder.
 
Desafio a borrasca.

Inclemente me alaga a chuva que derrama.

E este frio que enregela, a doer! E esta lama

que, pastosa, me atasca!
 
Mas decidido vou, enquanto o tempo der

e até onde puder!

 

José-Augusto de Carvalho

Setembro de 2001.

Setembro de 2010

Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 16:05
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
 
Guardei no bolso a amargura
que me coube nas partilhas.
 
Bebi, com raiva convulsa,
uma lágrima teimosa
e fugi como um maltês
acossado p'los rafeiros...

Fugiu comigo a mentira
da terra que se diz minha.
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas

tags:

publicado por Do-verbo às 14:41
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
 

 

Meu lírio roxo..., cantigas
que o vento nos traz e leva
na mentira das espigas...
-- pão amassado de treva!
/
Meu sonho de pesadelo,
suão -- ardência de lava!
Minha papoila de anelo
que és livre só porque és brava!
  /
Minha dimensão estulta
do transe que em ti abrigas!
/
Minha terra onde um menino
é já a mentira adulta
da moda feita destino:
-- Meu lírio roxo..., cantigas!


 

José-Augusto de Carvalho

In arestas vivas, 198

 

tags:

publicado por Do-verbo às 12:53
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
Meu lírio roxo do campo....
 
 
Teu nome é uma bandeira
 
desfraldada à chuva e ao vento.
 
Uma estrela verdadeira
 
que desceu do firmamento
 
da noite da servidão.

 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980

 


tags:

publicado por Do-verbo às 12:35
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
 
Os homens, à boa vida,
juntam-se, em grupos, na praça.
 
Há braços, há mãos, há dedos
ansiando retesar-se...
Onde estão os arcos, onde,
que vão disparar as setas?
 
Quem quer alugar, quem quer?
Que dá mais? Quem arremata?
 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980


*

Praça das jornas, espaço onde os agrários contratavam os camponeses.
À boa vida, expressão irónica que designava os camponeses sem trabalho.


tags:

publicado por Do-verbo às 12:16
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011

Adil, do árabe atíl, terreno inculto.

Da antiga Viana de Fochem, depois, absurdamente, a-par-de-Alvito, e, agora, redundantemente, do Alentejo, retomamos a divulgação deste espaço, que terá a assiduidade possível.
Daqui, donde se diz que o seu povo é de muitos mouros, alguns judeus e o resto sabe-o Deus.
Adil, terreno inculto. Tal qual, porque quem pode não quer e quem quer não pode.
Terra de senhores de abastança e que já foi de pão amassado com lágrimas de desespero.
Terra que viu craveiros a florir, em Abril; e a secar, em Novembro.
Terra que espera.
José-Augusto de Carvalho


tags:

publicado por Do-verbo às 10:41
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
 


Quando descobri a importância relativa dos blogues enquanto espaço de livre e responsável afirmação de quanto pretendemos comunicar, criei o blogue ADIL. Hoje, ponderando o intento, concluí pela impossibilidade da sua existência autónoma. Decido, por isso, transformá-lo em uma das partes constitutivas deste outro espaço.

Subordinado a esta etiqueta --- ADIL, começarei por transcrever o pouco já anteriormente publicado.
Assim me definia, então, enquanto alentejano no meu pátrio Alentejo. Assim continuarei...

Dórdio Gomes, Pintor alentejano



Rasgando as estradas,
 
à luz da evasão,
 
esmago no chão
 
um tempo de nadas.
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, Dezembro de 2009

tags:

publicado por Do-verbo às 10:12
Domingo, 23 de Outubro de 2011
 
 
 
Neste poço há uma nora
de alcatruzes de saudade,
onde ainda o tempo chora
o candor de Xerazade...
 

 

A princesa muçulmana
sobrevive enfeitiçada
nestas terras de Viana,
numa nora abandonada...

 

Numa nora abandonada,
nestas terras de Viana,
sobrevive enfeitiçada
a princesa muçulmana...
 

 

É quando o vento suão
até à sombra assa canas,
que dói mais a solidão
nas terras alentejanas.



Versos José-Augusto de Carvalho



Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.



publicado por Do-verbo às 16:04
Domingo, 23 de Outubro de 2011
 

 

Já estava no meu posto
quando o dia mal rompia…
E, o patrão, a contragosto,
ao sol-pôr, findava o dia…

 

Para além de água e de pão,
tive sede e tive fome,
que também se bebe e come
quer Justiça, quer Razão…

 

De Justiça e de Razão,
que também se bebe e come,
tive sede e tive fome
que não só de água e de pão…

 

Engelhado de cansaço,
hoje, sou esta memória…
Se na vida apenas passo,
que não passe a minha história…



 

Versos de José-Augusto de Carvalho

 


Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.

 


publicado por Do-verbo às 15:56
Domingo, 23 de Outubro de 2011
 
 
Na torre batem as horas.
Nem viv'alma pelas ruas.
Amor, por que te demoras
e esta saudade acentuas?

 

No meu peito, dói a espera.
Um nó me aperta a garganta.
Não pode haver primavera
se o passarinho não canta.

 

Se o passarinho não canta,
não pode haver primavera.
Um nó me aperta a garganta.
No meu peito, dói a espera.

 
Nos campos não há trigais...
E sem trigo não há pão!
Meu amor, não tardes mais,
que morro de solidão!

 


 

Música de Maria Luísa Serpa

Versos de José-Augusto de Carvalho
Viana, 10 de Março de 2006.


 



publicado por Do-verbo às 15:48
Registo de mim através de textos em verso e prosa.
mais sobre mim
blogs SAPO
Outubro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

17
18
20
22

24
25
26
28
29

30
31


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds