Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2011
 
 
No meu acontecer,
fui o que pude ser...
*
 
Ergui-me, deserdado.
A certeza enfrentei
do tempo encarcerado...
E sem arma nem lei!
*
 
No escuro mergulhei,
onde o tempo ultrajado
impunha o ser negado...
E sem arma nem lei!
*
 
Não traí nem neguei.
Fui no verbo jurado
o tempo conjugado...
E sem arma nem lei!
*
*
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 15 de Fevereiro de 1997


publicado por Do-verbo às 10:59
Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2011
  
 
Pão nosso que estás na mesa,
saciando a nossa fome...
Bendito seja o teu nome
de promessa e de certeza!

Pão nosso sempre amassado
com o suor que te damos,
que nunca mais pelos amos
sejas pão amargurado.
 
Vem até nós, por direito,
e que, como um mandamento,
sejas o sagrado alento
que brota da terra-leito!
 
Vem até nós, pão liberto,
que a Terra comum nos dá!
Que sejas como o maná
que já foi pão no deserto!...
 
 
José-Augusto de Carvalho
7 de Julho de 2007.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal


publicado por Do-verbo às 10:32
Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2011
 
 
Os corpos insepultos e os abutres...
Carnificina e horror de que te nutres!
*
Na escuridão do medo, ecoam gritos.
No cimo, errantes, tremeluzem astros.
No chão doído, informes, os detritos,
anúncio e precedência doutros rastros.
 *
No céu, se evola, em mancha nebulosa,
suspensa sobre a lei da gravidade,
o magma, que na via dolorosa,
expia condição e claridade.
 *
No circo, a turba exalta, em sangue, o trono.
César exibe a túnica escarlate. 
Na arena, em agonia e abandono,
as levas condenadas ao abate.

*
*José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 13 de Abril de 1997.


publicado por Do-verbo às 10:25
Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2011
 
 
 
É quando a morte chega à Feira das Vaidades
que ganha nitidez a nossa condição.
 
É quando o sal amarga e queima as veleidades
que a morte nos reduz à nossa dimensão.
 
É quando a luz do sol, cegando o vaga-lume,
esmaga a pequenez da néscia presunção.
 
É quando por grasnar chilreio se presume
que uma qualquer lamúria intenta ser canção.
 
É quando a Lua-cheia incita à tentação
que a noite se revela enleio enamorado.
 
É quando não há mais varinhas de condão
que o charlatão se quer o príncipe encantado.
 
É quando já ninguém consegue acreditar
que o verso em armas faz da vida o seu altar.


 
José-Augusto de Carvalho
Viana do Alentejo * Évora * Portugal


publicado por Do-verbo às 08:20
Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2011
 
 
Quem disse e já não diz
que os nossos pés alados
são, na terra, a raiz
de astros incendiados?
 
Quem disse e já não quer
ser verbo e ser futuro,
enqunto o sangue der
cor à luz que procuro?
 
Quem disse e nega agora
ter dito e defendido
que o drama que nos chora
não mais seria havido?
 
Quem disse e não honrou
a jura que jurou?
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
1 de Fevereiro de 1999.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 07:38
Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2011
 
 
Nem sempre é o contraste o clímax certo.
Nem sempre o que é monótono aborrece.
O Belo, que perturba e que entontece,
às vezes, sem se ver, está tão perto!

 
O que separa, o que une, o que dispersa...
A dúvida tenaz nos atormenta...
A sede que tortura e que, perversa,
parece de si mesma estar sedenta...

 
Importa o que se diz, exacto o termo.
Importa o que se cala e dói no peito.
Importa uma cidade erguendo um ermo.
Importa o verbo mesmo sem sujeito.

 
A barca, até na hora derradeira,
espera a pomba e o ramo de oliveira..


 
José-Augusto de Carvalho
Viana*Évora*Portugal
20 de Novembro de 1996.


publicado por Do-verbo às 14:50
Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2011
 
 
 
Tentei, ah, se tentei
honrar o testemunho recebido!
Errei,ah, tanto errei
e com severidade fui punido!
 
Sujeito definido,
 de queda em queda, vítima da lei,
fui réu escarnecido
e em vários desencontros me enredei.
 
A passo e por compasso reprimido,
caminhos palmilhei,
mas, sempre p'la mão, o dia havido
convicto desbravei.
 
E nesse dia havido,
e sempre por haver, eu me encontrei...
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
Tavira, 13 de Junho de 1996


publicado por Do-verbo às 11:18
Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2011
 
 
 
 

Por limpas e montados e olivedos,
perdi-me, num febril desassossego.
Por entre sombras, reprimi os medos.
Exausto, a casa, finalmente chego.

 

Salvei-me de armadilhas e emboscadas.
Em noites de vigília, fui maltês.
Atento, em todas as encruzilhadas,
pesava um passo só de cada vez.

 

Jazia o tempo em torva prostração.
E, dia a dia, em pérfido declínio,
era imolado em aras de aflição.

 

Mas quanto mais sofria o seu domínio,
mais resistia à raiva e à rendição
e livre alvorecer era um fascínio!


 


Lisboa, 2 de Maio de 1996.


publicado por Do-verbo às 10:49
Segunda-feira, 03 de Janeiro de 2011


Entardeço,
neste outono de fim
e de espera.
Hoje, só reverdeço
primavera
na saudade de mim.
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 13 de Dezembro de 2010.


publicado por Do-verbo às 15:08
Sábado, 01 de Janeiro de 2011
 
 
Os lábios comprimidos.
A boca é uma linha.
Nem gritos nem gemidos.
Apenas uma linha,
na roxa cicatriz
dos silêncios feridos,
calada, tudo diz.
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
1 de Janeiro de 2011.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 10:50
Registo de mim através de textos em verso e prosa.
mais sobre mim
blogs SAPO
Janeiro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
25
26
27
28
29

30
31


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds