Sexta-feira, 07 de Janeiro de 2011
 
A angústia dos arquivos, o vazio...
Doendo um tempo sórdido  e sombrio...
 
Escrevo os gritos nas paredes frias
e a minha voz ecoa pelas ruas...
Inertes, no silêncio, as sombras nuas
um medo sacralizam, de agonias...
 
Profana, impura e vil é esta argila,
moldada p'la distância imersa em mitos...
Quem dorme o pesadelo dos proscritos
e bebe o fel que a negação destila?
 
Em autos de má fé, os meus tiranos
a cinza me reduzem com seus medos...
E grito e morro em dor e desenganos...
E impunes, nos arquivos, os segredos...
 
 
José-Augusto de Carvalho
11 de Fevereiro de 1997.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 15:20
 
 
 
 
Quando Amine trazia o perfume dos dias,
que esplendor do devir em abril florescia!
*
 
Era abril-primavera ensinando a cantiga
da esperança a cumprir a perene oração...
Era o tempo de ser a promessa da espiga
que madura será a fartura do pão...
*
 
Neste tempo de agora, esfumou-se o perfume.
Só o vento suão enternece o vazio,
na vigília do tempo, em golfadas de lume
e lampejos de luz aquecendo este frio.
*
 
E eu porfio doendo a saudade dos dias,
nesta ausência de Amine em auroras de espanto!
E eu porfio no tempo em que Abril florescias,
num poema de amor que entre lágrimas canto...
*
*
 
 
Tuphy Mass
Al Andalus, 3/8/2010.


publicado por Do-verbo às 13:45
 
 
Este tempo de estar, actor que representa
não a vontade extravasando impulsos,
mas sempre a rigidez, que lhe algemando os pulsos,
dói tanto em seu doer, numa tortura lenta.
 
As regras a cumprir, perversas e castrantes.
Dos outros, o querer -- a norma imperativa.
E tudo se reduz à condição cativa
do grão a germinar em haustos hesitantes.
 
A terra exausta é dura e débil a promessa.
Extensos, os adis erguidos na recusa.
E a fome espera o pão sagrado que a seduza,
nos braços que hão-de haver a vida que começa.
 
E o tempo, noutro tempo, em ânsia transmutado,
num deslumbrante sol que raia deslumbrado!
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
24 de Outubro de 1998.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 11:15
 
De tribo em tribo, vou, humilde peregrino.
E tudo em derredor são sombras e armadilhas.
Um bobo impertinente exibe o desatino,
a turba exulta e faz do reles maravilhas...
 
Medíocre insecto arenga, em sórdido arreganho.
Casaca a condizer, as asas coloridas.
Asneiras que lhe inveja o néscio em seu tamanho.
E aqui não há ninguém que venda insecticidas!...
 
Humilde sou e humilde eu quero assim manter-me.
Traído o seu intento, verbo foi em vão.
Não é inteligente equiparar-me ao verme.
Humilde, sim, serei, mas sem humilhação.
 
Paguei o preço até ao último centavo.
Ingénuo, e em dor, senti do fel o amargo travo...
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
8 de Junho de 1996.
Viana * Évora * Portugal


publicado por Do-verbo às 10:56
 
 
Naquele tempo, os senhores
ainda eram só pastores.
 
Sofriam o tempo agreste,
lado a lado, com os servos,
e olhavam os seus acervos
como um bênção celeste.
 
Já, nesse tempo, a riqueza
era um privilégio raro
e afrontava a natureza
com loas ao desamparo;
 
já, então, o verbo erguia,
em armadilhas e ardis,
o poder que anestesia
os rebanhos nos redis.
 
 
José-Augusto de Carvalho
25 de Outubro de 1998.
Viana*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 10:34
 
 
 
O baloiço balança
para trás, para a frente,
em viagem contente
da contente criança.
 
Devagar, mais depressa,
delirando, o petiz
tem pressa, muita pressa
de sentir-se feliz.
 
Quer ter asas, voar,
subir ao céu, subir
o quanto lhe permite
 
o doido baloiçar...
Sem medo de cair,
quer ganhar o limite!
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 5 de Setembro de 1996.


publicado por Do-verbo às 09:04
 
 
 
Li o teu Livro de Mágoas
com desgosto e contrição
e hoje as tuas mágoas trago-as
dentro do meu coração.
 
Porque as mágoas são iguais,
como os dias que vivemos:
demo-nos sempre de mais,
sempre a tudo nos devemos...
 
Quem te quis soror saudade,
supôs-te imersa num choro,
do passado peregrina...
 
Eu quero-te claridade,
teu estro cantado em coro
na voz da nossa campina.
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 10 de Setembro de 1996.


publicado por Do-verbo às 08:31
 
 
 
Matei as pernas e os braços
em caminhos e trabalhos;
cortei laços, atei laços,
desbravei na vida atalhos.
 
Matei os braços e as pernas;
passei fome, sede e frio;
sonhei as doçuras ternas,
em horas de desvario.
 
Nas noites de escuro intenso,
que é quando o medo alucina,
embriaguei-me de incenso
e vi-te mulher menina!
 
Um dia vieste, enfim,
e a luz desceu sobre mim!...
 
 
 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 15 de Outubro de 1996.


publicado por Do-verbo às 06:22
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