Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2010
ÚLTIMA CEIA, DE LEONARDO DA VINCI
*
É sempre nesta data de magia 
que a vida dá sentido à profecia.
*
 
Carrega a tradição a longa espera,
que vem do Egipto e vem de Babilónia...
Espera que resiste e viva gera
o dia por haver na longa insónia...
*
 
E, em fogo, o sol deslumbra a profecia!
Um céu sem nuvens, todo azul, fascina.
O tempo está cumprido na magia!
Meus olhos encandeia a tremulina...
*
 
Na espera milenar que o sonho ateia,
as Portas do Futuro estão abertas!
As horas de hoje só serão incertas
p'ra quem não faz da Vida a sua ceia...
*
*
 
 
Joé-Augusto de Carvalho
Lisboa, 18 de Dezembro de 2010.


publicado por Do-verbo às 15:58
Domingo, 19 de Dezembro de 2010
 
Provei, no meu baptismo, o símbolo do sal.
Provei e não gostei, decerto, do amargor.
Provei, bebé ainda, o gosto a Portugal.
Provei, sem crer no Fado, o fel do seu sabor.

O Bem fugaz provei no leite maternal.
O duradouro Mal depois se soube impor.
E nem no tempo vão do breve Carnaval
eu vi, de novo, o Bem, num cântico de amor.
 
Meu ânimo de bravo ousou o Bojador.
Ao Cabo Não gritei: arreda, o meu fanal
é mais além de ti e até do Adamastor!...

Às Índias arribei! Além do chão natal,
sofri, morri, sonhei, amei com tanto ardor,
que em todo o mundo existo ainda Portugal!

 

 
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 9.X.2010


publicado por Do-verbo às 12:07
Sábado, 18 de Dezembro de 2010
viejo, de Pablo Picasso
 
 
 
Chegado ao fim da estrada,
a paz que desce, fria,
apenas pressagia
antemanhãs de nada.
 
Agora, o dia a dia
duma espera nevada
vestiu-se, resignada,
de ocasos de invernia.
 
Na pernas, o cansaço.
Nos olhos, o sem fim
esculpe, no marfim,
o impossível que abraço:
e o testemunho passo
aos outros eus de mim…
 
 
José-Augusto de Carvalho
18 de Abril de 2009.
Viana de Fochem*Évora*Portugal


publicado por Do-verbo às 04:17
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010
 
 
 
Nas asas das borboletas
há matizes deslumbrados
dos teus olhos evadidos...
 
Nas tuas mãos inquietas
há gestos adivinhados
de bailados proibidos...
 
Quando o rouxinol poeta
deixa entrever a centelha
do seu talento encantado,
 
na tua boca vermelha
uma promessa secreta
é um grito sufocado....
 
 
José-Augusto de Carvalho
in arestas vivas, 1980


publicado por Do-verbo às 09:46
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010
 
 
Desce
 
da neblina
 
da vertigem
 
à origem...
 
E germina,
 
cresce
 
e floresce.


 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980


publicado por Do-verbo às 09:21
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010
Casal de camponeses indo para o trabalho - Van Gogh
 
 
Nem um palmo tinha
de terra que fosse minha!
 
A lonjura das herdades
ganhava ao longe da vista...
E o sangue do meu suor
a tudo deu de beber!
 
Não há homem que resista
quando tudo tem de dar
e nada que receber!
Quando até o pão que é seu
é obrigado a pagar...
 
Fui a gleba, fui a fome.
Não tinha terra nem nome...
 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980


publicado por Do-verbo às 08:15
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010
 

 

Guardei no bolso a amargura
que me coube nas partilhas.
 
Bebi, com raiva convulsa,
uma lágrima teimosa
e parti como um maltês
acossado p'los rafeiros...
 
Partiu comigo a mentira
da terra que se diz minha...
 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980


publicado por Do-verbo às 03:59
Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010
Foto internet
 
Meu lírio roxo... cantigas
que o vento nos traz e leva
na mentira das espigas...
pão amassado de treva...
 
Meu sonho de pesadelo,
suão - ardência de lava!
Minha papoila de anelo
que és livre só porque és brava!
 
Minha dimensão estulta
do trânse que em ti abrigas!
Minha terra onde um menino
é já a mentira adulta
da moda feita destino...
Meu lírio roxo... cantigas!
 
 
José-Augusto de Carvalho
In arestas vivas, 1980


publicado por Do-verbo às 15:10
Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010
 
*
 
Todo o tempo que porfia
sempre um novo tempo gera,
num afã que se recria
de perene primavera.
 *
Porque a inércia não existe,
estar vivo é movimento,
na viagem que persiste,
a favor e contra o vento.
 *
Vamos todos, sem demora,
neste não de ser refém
duma Torre da Má Hora
donde nunca vem ninguém!
 *
Vamos, sem demora,
no tempo que é de nós,
vamos, é a hora
de termos voz!
 *
*
José-Augusto de Carvalho
5 de Julho de 2009.
Viana*Évora*Portugal
(Na música da canção napolitana «Torna a Surriento»)


publicado por Do-verbo às 07:20
Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010
 
*
Na minha terra,  já rareia o trigo.
Ermos os campos, dói a solidão.
Até o duro pão que, em sopas migo,
estranho, sabe à dor da emigração.
 *
Oh, minha terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
Oh, terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
 *
Quando a saudade queima no meu peito,
os cravos secos gritam na memória!
Sinto, doendo, o sonho já desfeito.
Quem disse não ao rumo da História? 
 *
Oh, minha terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
*
Oh, terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
 *

   * 
José-Augusto de Carvalho
Julho de 2009.

Na música da canção napolitana «O sole mio».


publicado por Do-verbo às 07:16
Registo de mim através de textos em verso e prosa.
mais sobre mim
blogs SAPO
Dezembro 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
11

14

21
22
23
24
25

26
27
28
29
30
31


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds