Terça-feira, 22 de Junho de 2010

 

PÓRTICO MANUELINO DA
IGREJA MATRIZ DE VIANA DO ALENTEJO
FOTO INTERNET
 
 
 
Aqui estou.
Não pedi para vir.
Nascer não depende da nossa vontade.
Porque nasci, reclamo que me respeitem.
É o mínimo que se deve a um ser vivo.
Quisera ser de todos irmão.
Até dos que me recusassem.
Vivo e desnudo nesta aventura existencial,
a riqueza que tenho para dar é fraternidade.
Oxalá me seja retribuída.
Escrevo para partilhar todas as ansiedades
e todas as angústias existenciais
do barro amassado donde provimos.
Este cantinho acolherá todas as opiniões.
Todas, desde que respeitem escrupulosamente os princípios aqui enunciados.
Considero-me um cidadão do mundo.
A minha família é a Humanidade.
A minha questão primeira é registar, publicamente,
para que conste,
seja onde seja,
e para o bem e para o mal,
que a pluralidade de todas as singularidades
é o objectivo supremo do homem que se deseja Homem.
Enquanto o mundo for mundo.
Assim seja!
 
 

José-Augusto de Carvalho

Viana*Évora*Portugal

 
 


publicado por Do-verbo às 14:44
Terça-feira, 22 de Junho de 2010
 
 
Hoje, um manto de nuvens cinzentas
anuncia o dilúvio aos gentios.
E sem barca, ai de nós!, que tormentas
no devir de fatais desvarios!...
 
E de pombas, no céu, nem sinal!
É de sombras a noite que cai!
Que profano juizo final
tão distante do Monte Sinai?
 
E esta fé, o que faço com ela,
se a distância que maladivinho
das cortinas da minha janela
só de nada atapeta o caminho?
 
Do delírio dos cravos em festa,
o que resta? O que resta? O que resta?



José-Augusto de Carvalho
4 de Junho de 2008.
Viana * Évora * Portugal


publicado por Do-verbo às 12:42
Terça-feira, 22 de Junho de 2010

 

1

Eram belas, no céu, as estrelas!

Vinha longe a manhã... e era dia!

Poder vê-las... poder merecê-las...

Que delírio de cor florescia!

 

Era amante a ternura do vento,

afagando a liberta raiz...

Era o tempo do pão e do alento,

a sagrar, na verdade, a matriz.

 

As crianças brincavam, na rua...

As mulheres choravam, felizes...

Esta terra era minha, era tua...

 

Das feridas, tão-só, cicatrizes.

De olhos torvos, querendo entender,

os mastins, sem poderem morder...

 

 

2

Espingardas e cravos florindo,

garantiam a todos a paz...

"Nunca mais voltaremos atrás"

era o grito do sonho tão lindo!

 

O poder era o povo e crescia...

Era a vida cumprindo a promessa...

Era o tempo do tempo com pressa,

que corria, corria, corria...

 

Era o sangue escaldante, nas veias...

Era a sede de todas as fontes...

Eram vales, planícies e montes,

horizontes sem dor nem cadeias...

 

Eram cravos de sonho florindo...

O poema mais lindo... mais lindo!

 

 

3

Na candura, a nudez sem idade,

a cantar a ternura do enigma,

de si mesma se fez paradigma

da grandeza da luz-claridade.

 

Claridade de nós, de mãos dadas,

ser de todos o todo que temos,

da fartura do pão que comemos

às crianças de sonhos perladas.

 

Só que presa não rima com fera...

Só que vida não rima com morte...

Só que o verso de puro recorte

sempre o zoilo indecente lacera...

 

E novembro chegou, prussiano...

e gorou o sonhar lusitano.

 

 

José-Augusto de Carvalho

13, 14 e 15 de novembro de 2003.

Várzea, São Pedro do Sul, Portugal



publicado por Do-verbo às 12:34
Terça-feira, 22 de Junho de 2010

 

 

 

Aqui, na verdade de nós encontrada,

matámos a fome de maio maduro!

Aqui, na amargura da terra ultrajada,

aprendemos nunca ter medo de nada,

cantando horizontes sem grades nem muros!

 

Aqui, na verdade de nós perturbada,

sentimos o enleio mais terno e mais puro

da noite dos cravos parindo a alvorada!

Aqui, libertámos a vida adiada,

numa ânsia em delírio de ser e futuro!

 

 

José-Augusto de Carvalho

Lisboa, 1975.



publicado por Do-verbo às 12:29
Terça-feira, 22 de Junho de 2010

 

Na torre batem as horas.
Nem viv'alma pelas ruas.
Amor, por que te demoras
e esta saudade acentuas?


No meu peito, dói a espera.
Um nó me aperta a garganta.
Não pode haver primavera
se o passarinho não canta.


Se o passarinho não canta,
não pode haver primavera,
Um nó me aperta a garganta.
No meu peito, dói a espera.


Nos campos não há trigais...
E sem trigo não há pão!
Meu amor, não tardes mais,
que morro de solidão!
 
  

José-Augusto de Carvalho

10 de Março de 2006.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal
Música de Maria Luísa Serpa 



publicado por Do-verbo às 00:04
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010




Neste poço há uma nora
de alcatruzes de saudade,
onde ainda o tempo chora
o candor de Sherazade...

A princesa muçulmana
sobrevive enfeitiçada,
nestas terras de Viana,
numa nora abandonada...

Numa nora abandonada,
nestas terras de Viana,
sobrevive enfeitiçada
a princesa muçulmana...

É quando o vento suão
até à sombra assa canas,
que dói mais a solidão
nas terras alentejanas

 
José-Augusto de Carvalho
6 de Abril de 2006.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal


publicado por Do-verbo às 23:55
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

 

Já estava no meu posto

quando o dia mal rompia…

E, o patrão, a contragosto,

ao sol-pôr, findava o dia…

 

Para além de água e de pão,

tive sede e tive fome,

que também se bebe e come

quer Justeza, quer Razão…

 

De Justeza e de Razão,

que também se bebe e come,

tive sede e tive fome

e não só de água e de pão…

 

Engelhado de cansaço,

hoje, sou esta memória…

Se na vida apenas passo,

que não passe a minha história…

 

 

 

José-Augusto de Carvalho

4 de Abril de 2006.

Viana do Alentejo * Évora * Portugal



publicado por Do-verbo às 23:49
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

 

Na minha terra,  já rareia o trigo.
Ermos os campos, dói a solidão.
Até o duro pão que, em sopas migo,
estranho, sabe à dor da emigração.
 
Oh, minha terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
Oh, terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
 
Quando a saudade queima no meu peito,
os cravos secos gritam na memória!
Sinto, doendo, o sonho já desfeito.
Quem disse não ao rumo da História? 
 
Oh, minha terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?

Oh, terra
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?
 
 

 

José-Augusto de Carvalho
Julho de 2009.

Na música da canção napolitana «O sole mio».



publicado por Do-verbo às 23:31
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

 

 

Todo o tempo que porfia

sempre um novo tempo gera,

num afã que se recria

de perene primavera.

 

Porque a inércia não existe,

estar vivo é movimento,

na viagem que persiste,

a favor e contra o vento.

 

Vamos todos, sem demora,

neste não de ser refém

duma Torre da Má Hora

donde nunca vem ninguém!

 

Vamos, sem demora,

no tempo que é de nós,

vamos, é a hora

de termos voz!

 

 

José-Augusto de Carvalho

5 de Julho de 2009.

Na música da canção napolitana «Torna a Surriento»



publicado por Do-verbo às 23:26
Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

 

 

No lançamento do livro «O meu cancioneiro»

 

Cine-Teatro de Viana do Alentejo, 19 de Setembro de 2009.

 

 

Boa noite!

  

É um privilégio estar neste Cine-Teatro, que vi erguer na já distante década de quarenta do século XX.

Aqui me traz a solidária manifestação de apoio do Município à edição do livro «O meu cancioneiro».

A este gesto de solidariedade se associaram a Escola E.B. 2,3/S. Dr. Isidoro de Sousa, a CulArtes, a Oficina da Criança e todos os presentes para assinalarem o lançamento de um modesto livro de poemas que a «Temas Originais» editou e o Professor António João Valério e a Poetisa Conceição Paulino se predispuseram muito amavelmente a apresentar.

Às entidades aqui representadas, aos editores, aos apresentadores do livro e a todos os presentes aqui publicamente manifesto a minha gratidão.

Quanto ao livro, ele aqui está, disponível. Dos seus méritos e deméritos, o Juízo do Tempo decidirá, sempre com verdade, como convém. E a determinação de escrevê-lo estará justificada na pequena introdução que também redigi.

Como reiteradamente tenho afirmado, nada de relevante há a dizer de mim. Desempenhei, o melhor que pude e soube, a minha profissão.

Paralelamente, sempre escrevendo alguns versos, numa persistência que prossegue, agora, na situação de aposentado. Ontem como hoje, persigo a Poesia. Sei que é um esforço titânico, pois ela, a Poesia, se me apresenta como o horizonte --- sempre à minha frente, mas nunca ao meu alcance. Que fique o esforço, já que o objectivo é demasiado!

Sem exibicionismo, apenas animado pelo espírito de uma cidadania interventora, escrevi dois textos expressamente para este momento, nas músicas tão conhecidas de “O sole mio” e “Torna a Surriento”, duas canções napolitanas mundialmente apreciadas.

Estes textos relevam a visão da sociedade que percebi na adolescência, que amadureci na idade adulta, que me acalenta na fase derradeira da vida, sempre com a mesma esperança de que, um dia, o ser humano saberá ser digno de si mesmo, num abraço fraternal do tamanho do mundo.

Até sempre!

Bem-hajam! 

 

José-Augusto de Carvalho

Viana, 19-9-2009.



publicado por Do-verbo às 23:17
Registo de mim através de textos em verso e prosa.
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